Em 2009, recebeu a terceira estrela do Guia Michelin. Em 2010, era reconhecido como o quinto melhor restaurante do mundo pela revista “Restaurant”, que produz anualmente o que é considerado o Oscar da alta gastronomia. A propósito, os 50 melhores restaurantes são eleitos por 900 pessoas, entre críticos, ‘chefs’, proprietários de restaurantes e gastrônomos de todo o mundo. Cada um vota sete vezes. Pelo menos três desses votos têm de ser dados a restaurantes que não sejam os de sua própria região.
Em 2011 e 2012, foi eleito o segundo melhor do mundo. Numa demonstração de que a alta gastronomia catalã não se resume ao hoje mítico “El Bulli”, o “Celler de Can Roca” chegou a primeiro lugar este ano. Cada um dos três irmãos Roca contribui para o êxito de seu restaurante: Joan cuida da cozinha, do ‘mundo salgado’; Jordi, da confeitaria, do ‘mundo doce’, e Josep é o “sommelier”, cuida do ‘mundo líquido’. Os três combinam a vanguarda gastronômica com receitas catalãs tradicionais.
Junto a esses dois restaurantes devem ser considerados vários outros na Catalunha, que compõem uma tradição culinária desta região que revela sabores, aromas, texturas e matizes de dar o que pensar.
Nesse sentido, os irmãos Roca (que caracterizam seu trabalho como “cozinha emocional”) realizaram ontem no Arts Santa Mónica de Barcelona um evento singular, a ópera culinária “El Somni” (“o sonho”), experiência multisensorial que reuniu ciência, arte e gastronomia, isto é, arte total com a gastronomia no centro, em um banquete para 12 convidados especiais. Estavam presentes renomados e diversos convidados como Ferran Adrià, com quem os irmãos Roca trabalharam anteriormente; Freida Pinto, a atriz de “Slumdog Millionaire”; Harold McGee, autor norte-americano que escreve sobre culinária no The New York Times; o médico Bonaventura Clotet, um dos maiores especialistas do mundo em enfermidades infecciosas, chefe da unidade de HIV do Hospital Universitário Germans Trias, da cidade vizinha de Badalona; o antropólogo Joël Candau; Abderrahmane Kheddar, pesquisador de robótica humanóide no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, França); Miquel Barceló, artista plástico que fez a muito comentada e criticada cúpula do Palácio das Nações Unidas em Genebra e Lisa Randall, primeira mulher a ocupar postos em Física Teórica na Universidade de Princeton, no MIT e em Harvard, entre outros.
A ópera culinária tem a direção artística de Franc Aleu, premiado artista audiovisual. A lista de colaboradores no evento é extensa. A parte musical está a cargo do diretor de orquestra Zubin Metha. Miquel Barceló, ademais de comensal, também contribui com sua arte. O objetivo do projeto é empregar os cinco sentidos. O espaço onde se realizou o evento estava rodeado de telas de projeção de sequências de vídeo acionadas pelos movimentos dos participantes, além de sons e odores elaborados para a ocasião. No cardápio de abertura, esfera líquida de leite de tigre e casca de limão ralada, crocante de torresmo com molho agridoce picante de ameixas e verduras caramelizadas em vinagre, bolinhos de soja com gengibre e ‘wasabi’. Em seguida, a primavera: um caldo vegetal frio, onde está escrito “começa o sonho”. A Lua, uma esfera de trufas branca e negra, é o primeiro prato. Ao mesmo tempo, o espetáculo multimídia e a voz da cantora catalã Silvia Pérez Cruz. Depois, um “velouté” de ouriços na brasa. Os temas principais vão se desenvolvendo, tanto na mesa quanto na parte multimídia dirigida por Franc Aleu: noivado, carnalidade, guerra, piedade, morte, glória. Cada prato vem acompanhado de seu vinho. Ao final, o despertar do sonho, uma nuvem de algodão doce com flores e mel com jujubas.

Um dos pratos servidos na ópera culinária
Abraço, despertar, escuridão, êxtase, água, lua, jardim, angústia, vapor, choro, romance, são alguns dos 250 conceitos/poemas visuais que compõem as “Cartas Barcelona”, criação de Franc Aleu, já mencionado, e do ilustrador Peret e integram a ópera culinária.
O projeto será objeto de um filme, um livro e exposição. Deverá ser levado a 12 partes do mundo, num período de um a dois anos. Em cada cidade, haverá uma ópera culinária como esta, de caráter beneficente. Ao final, deverá passar a integrar as opções do restaurante.
As reservas para o Celler de Can Roca têm no momento uma espera de seis meses. O restaurante só comporta 40 lugares e atende 180 pessoas/dia. Deveremos estar lá em outubro, quando voltaremos a comentar o trabalho dos irmãos Roca.
Você pode ver um fantástico ‘trailer’ na página do evento.
Can Sunyer, 48
17007 Girona