Acaba de terminar a cerimônia em que foram escolhidos os 50 melhores restaurantes do mundo pelo “Restaurant Magazine”. A surpresa foi o retorno do Noma ao primeiro lugar, ficando o Celler de Can Roca em segundo.
Conforme já informamos aqui, em post do ano passado sobre o mesmo evento e em nossa página no Facebook durante a cerimônia, René Redzepi foi discípulo de Ferran Adrià, com quem trabalhou no El Bulli. Enfim, nesses últimos anos, de uma maneira ou outra, Chefs de várias partes do mundo agraciados com sua inclusão entre os 50 melhores do mundo acabam tendo tido uma passagem pelo mítico El Bulli. Em algumas ocasiões, até um breve estágio naquele restaurante produziu efeito bastante para colocar Chefs menos conhecidos entre os de maior prestígio. Para bons entendedores…
Antes de começar a cerimônia, passaram um vídeo com Redzepi, em que ele fala sobre sua filosofia e o desejo de não entrar na ‘linha de montagem’, como fazem vários, cuja fama costuma resultar na criação de outros restaurantes, em casa e em diversas partes do mundo. Sente-se visivelmente orgulhoso de só ter um pequeno restaurante em Copenhague, com lugar para apenas 40 comensais. (Divulgou-se depois do evento que ele tencionaria transferir o Noma, por breve temporada no verão, para Tóquio.)
Tive a impressão, tanto pelo vídeo de Redzepi quanto pelo seu discurso ao ser novamente escolhido como o número 1 do mundo, de que ele sentia necessidade de dar um tapa, quase sem luvas, no mercantilismo de seus colegas famosos.
Francamente, pareceu-me deselegante e desconcertante essa demonstração de uma certa arrogância, como se a perda do primeiro lugar no ano passado o tivesse ofendido.
Além de tudo, era desnecessário, na medida que os irmãos Roca têm mantido seu estilo, dedicando-se a projetos realmente interessantes e criativos, como o da experiência já relatada aqui anteriormente, denominada “El Somni”, o sonho.
Não quero dizer que Redzepi tenha querido referir-se a eles. Provavelmente não, porque não haveria motivo, mas respingou neles e em todos os que quiseram levar seus conhecimentos a outras partes, expandir-se.
Redzepi sentiu-se no direito de reivindicar sua superioridade, o que não tivera coragem de dizer antes - e isso em suas próprias palavras no discurso – ao estar diante de Chefs como os irmãos Roca, Ferran Adrià, estes sim, mencionados claramente no discurso. Enfim, Redzepi não é conhecido por sua afabilidade.
Para dar o toque final, seu discurso foi povoado daquela gentil palavra em inglês que começa com F. Aproveitando, eu diria que, Francamente, não faria reserva no Noma se estivesse em Copenhague. De mais a mais, um passeio pelas imagens dos pratos elaborados por ele no seu restaurante não chega a ser propriamente estimulante.
A propósito, apesar de ter sido votado o melhor do mundo, o Noma esteve no noticiário no início do ano passado, por conta de uma intoxicação alimentar de que foram vítimas mais de 60 clientes. O restaurante ofereceu a todos a restituição do valor pago. Acabou ficando em segundo lugar na escolha dos melhores de 2013, logo depois de enviar seus clientes ao hospital, com vômitos e diarréia.
Muito bem, tirando o mal-agradecido discípulo de Adrià do caminho, vamos ao resumo geral. Sete restaurantes espanhóis estão presentes entre os 50 melhores. Nada mal. Além disso, Jordi Roca foi eleito o melhor ‘patissier’ do mundo.Vejam os eleitos:
2 – El Celler de Can Roca, em Girona
6 – Mugaritz, em San Sebastián
8 – Arzak, em San Sebastián
26 – Azurmendi, em Bilbao, que passa a figurar entre os 50 pela primeira vez, além de ter recebido o prêmio de Melhor Restaurante Sustentável
34 – Asador Etxebarri, em Atxondo
35 – Martin Berasategui, em Lasarte-Oria
41 – Quique Dacosta, em Denia
Outra coisa me chamou a atenção, novamente. Observem quantos franceses estão presentes nessa lista:
11 – Mirazur, em Menton
25 – Arpège, em Paris
27 – Le Chateaubriand, em Paris
31 – L’Atelier Saint-Germain, em Paris, de um dos Chefs mais celebrados da França desde os anos 80, Joël Robuchon
38 – L’Astrance, em Paris
São somente 5 restaurantes franceses, nessa lista. Para um país tradicionalmente conhecido por sua alta gastronomia, é surpreendente.
Dos brasileiros, apenas dois, ambos de São Paulo: D.O.M., que passou a ser o sétimo e o melhor da América do Sul. Se bem me lembro, foi o sexto em 2013. Alex Atala recebeu o prêmio “Chef’s Choice”, mas não entendi bem o seu significado. Parece ser uma escolha exclusiva dos Chefs, para premiar o que consideram o melhor entre eles.
Maní, número 36, conservou sua posição no ano passado. Como já foi informado anteriormente, sua Chef, a simpática Helena Rizzo, havia sido recém-agraciada pela revista britânica com o prêmio de Melhor Chef Feminina.
Digno de menção, o único português na lista, Vila Joya, na Albufeira, número 22.
Os preconceituosos ainda dizem que ‘lugar de mulher é na cozinha’. Observe-se, no entanto, que há pouquíssimas mulheres na relação de Chefs desses restaurantes. De imediato, lembro-me somente de Elena Arzak e de Helena Rizzo entre os 50 melhores, além de Carme Ruscalleda, do restaurante Sant Pau, com três estrelas Michelin, perto de Barcelona.
Caras leitoras e leitores, preparem seus roteiros gastronômicos! Independentemente da premiação, devo dizer que há uma grande quantidade de fantásticos restaurantes não só em Barcelona, mas também em diversas partes da Catalunha e do resto da Espanha. Alguns já foram objeto de posts; outros mais virão, proximamente. Barcelona é uma parada estratégica para todos aqueles que sabem apreciar Gastronomia, com maiúsculas.